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Lidando com perdas: o morrer e os por quês

Recentemente, uma equipe de cuidados paliativos cuidou de um jovem de 18 anos de idade com um doença onco-hematológica grave. O rapaz havia passado por oito linhas de tratamento oncológico e passou a apresentar progressão de doença, o que comprometeu alguns de seus órgãos e sua capacidade funcional progressivamente. Passou o último ano de sua vida longe de sua terra natal, distante de alguns familiares e amigos.

Seus pais e o jovem mudaram-se para outro estado para que os tratamentos pudessem ser realizados. Houve muitos períodos em que o paciente ficou bem, mais ativo, realizando seus hobbies, aproveitando todo o tempo possível para ler, ver filmes, passear. Seus pais aproveitaram esse período também para aprenderem e ressignificarem muita coisa em suas vidas. Certo dia, em seu quarto, o pai do jovem relatou ao médico: “eu jamais desejaria ao meu maior inimigo que ele atravessasse um período de tanta dor como estou passando”.

Entre sentimentos e pensamentos, era frequente que seus pais trouxessem à equipe frases como estas: “ele não merecia passar por isso”, “há pessoas tão más nessa vida e ele não era uma dessas pessoas”, “eu gostaria que essa doença pudesse ter me atingido ao invés dele”. Nas suas últimas semanas de vida, a percepção da finitude foi ficando mais evidente, e a busca por explicações existenciais ou espirituais foi verbalizada pelos seus pais algumas vezes por meio da indagação “por quê disso tudo?”

Certo dia, perguntaram ao médico qual era a sua religião (os pais e o jovem eram católicos, mas muito abertos a outras filosofias ou crenças). O colega respondeu que era espírita, e logo disseram que simpatizavam com a Doutrina Espírita. Sua mãe, de bate-pronto, perguntou-lhe como o Espiritismo poderia explicar a dor, o sofrimento e a angústia vivenciada por todos eles.

De forma muito educada e cautelosa, o médico lhes trouxe a reflexão de que o Espiritismo compreende Deus, Nosso Pai, como uma inteligência em que há um amor incondicional e uma justiça plena para com seus filhos. Deus não pune ninguém, não escolhe quem sofre ou deixa de sofrer. Que a doença é grande oportunidade de aprendizado, quando vivenciada com resignação e paz no coração, e que traduz necessidades de ajustamento perante as Leis Divinas, segundo as nossas ações pretéritas ou atuais. Em seguida, seu pai foi categórico: “a causa desse sofrimento não é desta vida”. O médico ouviu atentamente e calou-se. Não cabia ali julgamentos, afirmações ou negativas. Não é fácil lidar com dor ou mensurá-la quando esta atinge o coração de um pai e de uma mãe que presencia o final da vida física de um filho, por mais espiritualizados que sejam.

Discorreu em seguida que Espiritismo explica a sobrevivência da alma ou Espírito após a morte do corpo físico, em que apenas mudamos de residência para continuarmos vivendo, em outra dimensão, em outra pátria. Que podemos encontrar demais familiares já falecidos e que talvez possam ajudar aqueles que desencarnaram, no processo de adaptação à nova realidade.

O fato é que o luto é sempre algo permanente, seja de forma antecipada ou mesmo após a morte de um ente querido. Trata-se de um conjunto de reações a uma perda significativa, geralmente pela morte de outro ser. Segundo John Bowlby, quanto maior o apego ao objeto perdido (que pode ser uma pessoa, animal, fase da vida, status social etc.), maior o sofrimento do luto.

Para entender a reação de luto, é preciso olhar para o vínculo ou as relações com o ente querido. A forma como cada um reage ao desenlace dependerá também do processo de adoecimento e da morte – além do suporte oferecido e recebido ao longo da trajetória. A cada 100 mortes, 25% das pessoas desenvolverão complicações em seu processo de luto, tais como: transtorno de luto complicado, suicídio, rupturas familiares e sociais, alterações comportamentais, perda de emprego, entre outros.

O aconselhamento em luto deve ser o mais precoce, quando se é possível, já que os estudos apontam que, nesses casos, há menos deterioração na saúde, menos uso de remédios sedativos, menos preocupação com a pessoa morta e menos sentimentos de raiva e culpa. Há alguns tipos de serviços disponíveis: aqueles proporcionados por profissionais, realizados por médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos treinados; os serviços voluntários selecionados e treinados que são supervisionados por profissionais; e os grupos de autoajuda em que pessoas enlutadas oferecem ajuda a outras pessoas enlutadas com ou sem aconselhamento individual ou em grupo.

O enlutado grave, segundo a psicóloga especialista em luto Erika Pallottino, é aquele que “não consegue elaborar o processo, há um prolongamento daquela resposta aguda que pode se estender por anos. Trata-se de uma disfuncionalidade relevante, porque a pessoa não consegue lidar com o trabalho, cuidar dos filhos, ela se isola completamente”. Existem alguns sinais que podem estar associados ao luto complicado: grudar-se ao paciente antes da morte, sentimento de raiva ou comportamento de autorreprovação, falta de uma família suportiva, baixo status socioeconômico, ser jovem e o pressentimento intuitivo do pessoal de enfermagem de que o parente enlutado, provavelmente, enfrentaria mal a situação.

Por fim, é necessário o desenvolvimento de uma cultura na sociedade que discorra melhor sobre a morte e o morrer de forma séria, prudente, acolhedora e ética. O proselitismo religioso não cabe nestas circunstâncias de dor, mas a abordagem das necessidades espirituais e a valorização e o respeito pelas práticas religiosas e espirituais de cada paciente e familiar devem estar sempre presentes no cenário dos cuidados oferecidos pelas equipes de saúde.

Luís Gustavo Langoni Mariotti é médico com especialização em Geriatria pela Escola Paulista de Medicina, com área de atuação em Medicina Paliativa, e coordenador do Departamento de Cuidados Paliativos da Associação Médico-Espírita do Brasil (AME-Brasil).

Referências

AS PERDAS e a importância do luto. Instituto BH Futuro, 2020. Disponível em: https://institutobhfuturo.com.br/as-perdas-e-a-importancia-do-luto/#:~:text=%E2%80%9CO%20luto%20%C3%A9%20um%20conjunto,percurso%2C%20e%20n%C3%A3o%20um%20estado. Acesso em: 5 abr. 2025.

TAVARES, Mariza. É preciso reconhecer e respeitar o luto de idosos e crianças. G1, 7 jul. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/2019/07/07/e-preciso-reconhecer-e-respeitar-o-luto-de-idosos-e-criancas.ghtml. Acesso em: 5 abr. 2025.

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