AMIGO FOLHA ESPÍRITA
Você pode ajudar a divulgação da Doutrina. Colabore com a Folha Espírita e faça a sua parte
Quero ContribuirABRIL/2024
irMARÇO/2024
irFEVEREIRO/2024
irJANEIRO/2024
irDEZEMBRO/2023
irNOVEMBRO/2023
irOUTUBRO/2023
irSETEMBRO/2023
irAGOSTO/2023
irJULHO/2023
irJUNHO/2023
irMAIO/2023
irABRIL/2023
irMARÇO/2023
irFEVEREIRO/2023
irJANEIRO/2023
irDEZEMBRO/2022
irNOVEMBRO/2022
irOUTUBRO/2022
irSETEMBRO/2022
irAGOSTO/2022
irJULHO/2022
irJUNHO/2022
irMAIO/2022
irABRIL/2022
irMARÇO/2022
irFEVEREIRO/2022
irJANEIRO/2022
irDEZEMBRO/2021
irNOVEMBRO/2021
irOUTUBRO/2021
irSETEMBRO/2021
irAGOSTO/2021
irJULHO/2021
irJUNHO/2021
irMAIO/2021
irABRIL/2021
irMARÇO/2021
irFEVEREIRO/2021
irJANEIRO/2021
irDEZEMBRO/2020
irNOVEMBRO/2020
irOUTUBRO/2020
ir(Texto de M. Tamassia)
Um leitor envia-me uma carta da qual transcrevo alguns trechos: “Minha filha, desde menina, foi criatura delicada, doce e meiga. Tivemos a impressão de tê-la casado ‘bem’, como se usa dizer na sociedade, pois o escolhido pertencia à família de destaque, possuidora de nome e fortuna. Ela me dois netos, mas a existência da coitadinha tem sido verdadeiro martírio desde os primeiros dias de vida conjugal. Seu consorte se revelou psicopata, violento e masoquista, batendo nela por qualquer ‘me dá cá aquela palha’. Tem me sido duro e à minha esposa ver entregue nossa filha, que criamos com tanto desvelo, a um homem brutal. Além disso, é vadio. Desde que se casou, nunca se firmou em nada, e somos nós que temos sustentado o lar. Arrastado por más companhias, anda de um lado para outro atrás de mulheres. Desde o começo, a minha sofrida Marisa desejava desquitar-se. Como católico, apostólico e romano praticante, para mim o que Deus juntou ninguém poderia separar. Por outro lado, em nossa família, nunca tivemos mulher separada do marido. Sendo minha filha bastante jovem, com apenas 25 anos, poderia mais tarde gostar de alguém e desejar reconstituir um lar, mas, então, teria de se amigar. De maneira alguma, eu me conformaria em ter, amanhã, uma filha amigada. Preferiria morrer. Por isso tudo, nunca consenti no desquite ou separação a qualquer título. No entanto, cada vez mais minha filha se definha, e a saúde lhe torna precaríssima. Levada a um psiquiatra, este a tem mantido em períodos alternados de choques. Vivo em tremendo conflito interior, temeroso de ofender a Deus”.
Evidente que a resposta, por conter dados pessoais, enviei ao missivista, por carta. Mas isso nos revela um aspecto do debatido problema do divórcio no Brasil. Muitas tentativas, até mesmo heroicas, foram feitas para a sua adoção, sem qualquer resultado. E o motivo sempre foi o mesmo, aquele que torna o homem indiferente às coisas que não dizem respeito à sua pessoa.
Quando solicitamos a um cidadão ajutório pecuniário para amenizar o frio dos detentos, 10 a 15 seres humanos em úmidas e sujas enxovias, tratados como feras, ele nos respondeu: “Ora essa, eles são criminosos, e quanto mais sofrerem melhor!” Três meses depois, este cidadão nos procurava no Conselho Carcerário, aflito, lacrimoso, para que suavizássemos a situação de seu querido irmão, preso por sonegação de impostos. E só então entendeu o nosso trabalho e que existem crimes e crimes!
Antes de mais nada, quando se discute o divórcio, costumam usar de argumento que, por não ser analisado friamente e possuir tremenda carga emotiva, produz distorção: a de que a aprovação de uma lei de divórcio no Brasil estimularia a separação conjugal e decretaria a desintegração da família brasileira.
Se a pessoa parasse para pensar, verificaria não ser isso verdade, mas simples técnica sugestiva, que Gustave Le Bon denunciava em As opiniões e as crenças. Inúmeros países do mundo possuem divórcio e gozam de família absolutamente sã e incorruptível. Por outro lado, na realidade, nenhum casal se separa pelo fato de poder casar-se ou não outra vez. Quando surgem motivos insuperáveis, absoluta impossibilidade de coabitação, partilha de leito, campeando o egoísmo, a truculência, a violência, até mesmo o perigo de morte, os consortes não cogitam se existe lei de divórcio ou não. Separam-se de qualquer modo: alguns simplesmente arrumam a trouxa e dão o fora, sem qualquer formalidade.
Ipso facto, o divórcio nada tem a ver com a separação, pois, se fosse assim, no Brasil não encontraríamos nenhum lar desfeito, pois nunca tivemos divórcio, e é inacreditável o número de casais que se separam. O que separa o casal são inúmeros fatores, alguns bastante complexos e, isso sim, deveríamos estudar para alertar os jovens. A religião, então, seria importantíssima nessa sedimentação, mas para uso interno no coração, convertendo-se em comportamento de cada um.
Quando os cônjuges se separam, acontece de encontrarem outro companheiro. Curioso que esse outro escolhido, depois de um fracasso, se integre melhor na nova união, talvez porque, agora, a escolha se fez quando havia maior maturidade e, no dizer do psiquiatra Frank S. Caprio, a maioria dos casamentos se realizada na fase de imaturidade do homem e sob o calor enganoso da “prematuridade”.
Um dos casais mais perfeitos que conheci em São Paulo, em lar onde pontificavam as mais excelsas virtudes cristãs, não eram casados. Nem mesmo os seus filhos exemplaríssimos sabiam disso. E curioso é que me ajudaram muito a salvar lares de desintegração, atuando como conselheiros. No entanto, eu sei quantos óbices, dificuldades, temores e sustos suportavam para ocultar a nódoa, que teriam de arrastar.
Nesse mesmo sentido, subordinado ao título de dramalhão: “a lei quer que eu sofra…”, um episódio ocorreu ilustrativo da crueldade de certos princípios. Respeitável cidadão falecido idoso, deixando a viúva com uma penca de filhos. Uma das filhas se encontrava noiva, com casamento mais ou menos marcado, com pessoa da mais alta posição na sociedade carioca. Todavia, na hora de se tirar a certidão de óbito, esse noivo rico e solícito encarregou-se dos expedientes e, só naquela hora, aziaga para a senhorita, verificou pelos papéis que aquele casal não era “casado”, e sua futura esposa, espúria. Desmanchou o noivado, e a viúva, até o fim da sua existência de muita luta, viveu traumatizada por ter sido a causadora da infelicidade da filha. Meio século fora casada, tinha já 82 anos, 45 netos e muitos bisnetos, mas a lei a tinha como “solteira” e assim foi sepultada.
Parece que a vida entre um desquitado e um solteiro é normal, no mundo evoluído de hoje, mas não o é, pois, socialmente, o preconceito existe; aquele mesmo que faz o missivista misturar as tiranias dos homens com pretensas determinações de Deus. Nas relações sociais, familiares, nos assentamentos dos clubes recreativos, nas justificações tributárias, nas inscrições, nos títulos, documentos pessoais, tudo é difícil aos que se unem, sob a égide do amor, para ensaiarem uma nova vida. Quando, então, esses “marcados” vão matricular os seus filhos nos estabelecimentos escolares é que sentem o peso de uma pena, por sinal, “imprescritível”, que cruelmente atinge seres inocentes, que nada têm a ver com o peixe.
Talvez foi por isso que, através de Chico Xavier, num Pinga-Fogo célebre, as vozes do Alto se fizeram sentir por intermédio desse “baba”, na expressão de Bannerjec, respondendo aquele médium a uma pergunta formulada pelo nobre deputado federal Freitas Nobre: “Nós que vivemos hoje em dimensões tão grandes de compreensão humana, consideramos o divórcio como medida humana, legítima, porquanto ‘dói ao nosso coração’ quando ouvimos, nas palavras públicas de nossos grandes magistrados, a palavra ‘concubina’ para designar senhoras distintíssimas…” E Chico Xavier, depois de outras considerações, obtemperou: “Peçamos a Deus que as nossas autoridades possam ouvir os nossos sentimentos… Nós vamos esperar que dias melhores venham para a família brasileira e que o divórcio possa ser consagrado, por nós todos, como medida humana…”
Parece que essa força espiritual imponderável, que envolve os mansos, bons e pacíficos de todas as religiões, começa aqui e ali a atuar, nessa nova investida dos que buscam o aperfeiçoamento das instituições. Pelo menos é o caso de Dom Jerônimo Sá Cavalcanti, prior do mosteiro de São Bento (Bahia), que corajosamente lançou as cartas na mesa: “A posição da Igreja em termos tradicionais é de encarar o problema da indissolubilidade do matrimônio apenas do ângulo formal intrínseco, sem perceber que a questão essencial é a do amor. Não tem sentido um casal viver junto quando não mais se entender ou então manter os vínculos apenas por uma imposição da Igreja…” E adiante prossegue: “Basta de escamoteações, temos de ser sinceros. Será que Deus quer, como sinal da sua graça invisível, ver um casal que não se entende, nem se ama?”