O véu entre a vida e a morte: o que o Halloween pode nos ensinar sobre o invisível

Muito antes das fantasias, das abóboras e dos doces, o Halloween nasceu de um antigo festival celta chamado Samhain, celebrado há mais de 2.000 anos na região onde hoje ficam a Irlanda, Escócia e Inglaterra.

O Samhain marcava o fim do verão e o início do inverno, época em que o véu entre o mundo dos vivos e dos mortos se tornava mais fino, permitindo que espíritos atravessassem — não para assustar — mas, para visitar seus entes queridos.

Com o avanço do cristianismo na Europa, a Igreja incorporou o festival pagão ao calendário religioso, criando o Dia de Todos os Santos (1º de novembro) e o Dia de Finados (2 de novembro). A véspera, 31 de outubro, passou a ser chamada de All Hallows’ Eve — que, com o tempo, se transformou em Halloween.

Nos séculos XIX e XX, a tradição foi levada para os Estados Unidos por imigrantes irlandeses e escoceses, onde ganhou um tom mais festivo e comercial, com fantasias, festas e as famosas decorações com abóboras.

Tradições, símbolos e significados

As tradições do Halloween, embora transformadas ao longo dos séculos, preservam símbolos profundos da relação humana com a morte e o desconhecido.

A abóbora iluminada, ou Jack O’Lantern, surgiu da lenda de um homem que enganou o diabo e foi condenado a vagar eternamente com uma lanterna feita de nabo e carvão. — mais tarde substituída pela abóbora americana.

As fantasias e máscaras tinham o propósito original de afastar espíritos malignos, enquanto as velas nas janelas eram acesas para iluminar o caminho dos mortos e proteger os vivos.

Outros costumes, como o “trick or treat” (gostosuras ou travessuras), nasceram da antiga prática medieval de pedir oferendas em troca de orações pelos mortos — um costume chamado souling.

Hoje, a data é celebrada como uma festa popular e cultural, especialmente nos Estados Unidos, onde se mistura o mistério e a nostalgia das antigas tradições.

O Halloween no Brasil: entre escolas, festas e controvérsias

O Halloween chegou ao Brasil por volta da década de 90, trazido pela influência da cultura norte-americana, principalmente através de filmes, séries e escolas de inglês, que até hoje promovem atividades lúdicas para estimular o aprendizado da língua inglesa e o contato com a cultura americana.

Com o tempo, tornou-se comum também em colégios e festas temáticas. Contudo, a celebração também despertou debates e preconceitos, sendo por vezes associada a rituais sombrios, bruxaria e satanismo — interpretações distantes de seu sentido original, que é a celebração do ciclo da vida e da morte.

Em resposta a essa influência estrangeira, surgiu no Brasil o “Dia do Saci”, criado para valorizar o folclore nacional. Mas, mais do que uma disputa cultural, a data é um convite para refletirmos sobre o que o medo do invisível desperta em nós.

Do medo à compreensão: o olhar do Espiritismo sobre o Halloween

Tanto o Halloween (em sua forma original) quanto o Espiritismo, partem da mesma percepção fundamental: a vida continua após a morte.

Para a Doutrina Espírita, a morte não é o fim, mas uma mudança de estado. Entretanto, o contato entre vivos e desencarnados é natural e constante, não limitado a uma data específica do calendário.

O Halloween carrega elementos de misticismo e magia, heranças das crenças populares sobre o invisível. Já o Espiritismo propõe uma visão racional e científica da espiritualidade, explicando fenômenos antes considerados “sobrenaturais” — como aparições, ruídos, premonições e comunicações — à luz das leis naturais e morais.

A mediunidade, muitas vezes associada à bruxaria ou à feitiçaria em tempos antigos, é vista como uma faculdade humana que permite o intercâmbio com o plano espiritual de forma equilibrada.

Assim, onde o Halloween cultiva o mistério, o Espiritismo traz entendimento e serenidade.

Onde há medo do invisível, o Espiritismo propõe luz, estudo e compreensão.

A reencarnação e o ciclo da vida

A abóbora iluminada, símbolo da chama que vence a escuridão, pode ser lida como uma metáfora perfeita para a reencarnação, um dos pilares do Espiritismo. Para os espíritas, a vida é contínua, e a morte é apenas uma pausa necessária para a evolução espiritual.

O ciclo do Samhain — morte e renascimento da natureza — reflete o mesmo princípio universal que rege todos os seres. Ao compreendermos essa dinâmica, percebemos que não há motivo para temer o fim, porque a essência da vida é renovar-se eternamente.

Lembrar com amor, não com medo

Nas antigas tradições, as pessoas acendiam velas para os que partiram. No Espiritismo, orar pelos desencarnados é a forma mais elevada de manter o vínculo com eles — não pela invocação, mas pela vibração de amor e gratidão.

Entre o sagrado e o simbólico

O Halloween, quando visto sob a ótica espírita, deixa de ser apenas uma festa com fantasias e histórias de terror.

Torna-se um espelho das inquietações humanas diante do desconhecido — e uma oportunidade para transformar medo em compreensão, superstição em conhecimento, e escuridão em luz.