As Nações Unidas definem a pobreza extrema como viver com menos de US$ 2,15 por dia. Esse é o limite da sobrevivência para milhões no mundo todo. Em 2022, 670 milhões de pessoas — cerca de 8,4% da população global — ainda enfrentavam essa realidade brutal.
Mesmo com esforços mundiais, as projeções não são animadoras: em 2030, 575 milhões de pessoas ainda estarão presas ao ciclo da fome e da miséria. E quando se fala em pobreza multidimensional, que vai além da renda e inclui carências em saúde, educação, saneamento e moradia, o número salta para 1,2 bilhão de pessoas em 111 países.

O cenário no Brasil
No Brasil, houve avanços recentes: entre 2022 e 2025, a insegurança alimentar grave caiu de 8% para 1,2%, o que tirou 14,7 milhões de pessoas da fome. Também houve redução da pobreza: de 31,6% em 2022 para 27,4% em 2023. Mas os desafios persistem: milhões ainda não têm acesso a água potável e saneamento básico, condições mínimas para uma vida digna.
Um dia para refletir
Criado pela ONU em 1992, o Dia Internacional para Erradicação da Pobreza, celebrado em 17 de outubro, nasceu de um movimento popular em Paris, em 1987, quando mais de 100 mil pessoas se reuniram para homenagear as vítimas da pobreza e pedir por justiça social. Hoje, a data integra a Agenda 2030, um plano de ação global adotado em 2015 por 193 países para alcançar um mundo mais sustentável até o ano de 2030
Gaza: quando a fome vira arma de guerra
Mas enquanto parte do mundo luta para reduzir índices e avançar em políticas sociais, em outros territórios a pobreza e a fome são consequências diretas de conflitos armados e decisões políticas. É o caso de Gaza, na Palestina, onde mais de 900 mil crianças enfrentam a fome, e 70 mil já estão em estado grave de desnutrição.
O depoimento de um pai resume a situação desesperadora: “Meus dois filhos estavam chorando porque não comiam há quatro dias. Juro por Deus, eu aceitaria a morte se isso significasse levar para casa um pacote de farinha.”
Segundo a ONU, mais de mil palestinos foram mortos desde maio de 2024 — apenas tentando buscar comida. Até o fim de setembro, cerca de 640 mil pessoas estavam em situação de fome catastrófica, o nível mais alto de insegurança alimentar já registrado no Oriente Médio.
Juliette Touma, porta-voz da agência da ONU para refugiados palestinos, é categórica: “O que está acontecendo em Gaza não é falta de comida. É um colapso deliberado dos sistemas necessários à sobrevivência humana.”
Reflexão necessária
O contraste é brutal: enquanto o mundo busca caminhos para erradicar a pobreza até 2030, milhões de pessoas em Gaza enfrentam a fome, usada como arma de guerra, em um cenário onde o direito à vida e dignidade é negado diariamente.
Neste Dia Internacional para Erradicação da Pobreza, a lembrança é dolorosa e urgente: a pobreza não é apenas falta de recursos — é a expressão maiscruel da injustiça social e, em muitos casos, da violência humana.