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Fome em Gaza: se importar é romper a indiferença

A declaração do secretário‑geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 22 de agosto, chamando a situação de fome na Faixa de Gaza de “um desastre causado pelo homem, uma acusação moral – e uma falha da própria humanidade”, expõe algo básico: não é uma tragédia inevitável, é algo produzido e sustentado por decisões humanas.

Hoje, mais de meio milhão de pessoas em Gaza passam fome. Mais de 12 mil crianças já foram identificadas como gravemente desnutridas – o maior número mensal já registrado –, e a projeção de crianças em risco grave de morte por desnutrição até o fim de junho de 2026 saltou de 14.100 para 43.400. A pergunta “como é possível que em 2025 uma situação desta ainda aconteça?” não é retórica; mostra o choque entre tudo o que a humanidade já é capaz de fazer tecnologicamente e o que escolhe não fazer diante de quem está à beira da morte por falta de comida. Daí o impacto da frase: “É uma fome em 2025. Uma fome do século XXI vigiada por drones e pela tecnologia militar mais avançada da história”. O contraste é brutal: alta sofisticação de vigilância e baixa proteção da vida básica.

 Quando lembramos que “A fome é um problema que afeta 811 milhões de pessoas em todo o mundo” e que resulta de desigualdade, pobreza, guerras, crises econômicas, má distribuição de alimentos e mau uso dos recursos naturais, Gaza deixa de ser um ponto isolado e aparece como um caso extremo de um mecanismo que já conhecemos. Em conflitos, tudo que sustenta a vida cotidiana se rompe: abastecimento, saúde, circulação de ajuda, segurança mínima. Isso explica parte da escalada, mas não justifica a passividade.

Olhar para trás ajuda a enxergar que essa repetição não é nova. Em maio de 1868, no texto “Fome na Argélia”, da Revista Espírita, o capitão Bourgès descreveu cenas que poderiam estar hoje em um relatório de emergência. O testemunho completo que ele trouxe está aqui: “Não poderíeis crer o quanto se fica emocionado vendo os corpos pálidos e raquíticos procurando por toda a parte o seu alimento, e o disputando com os cães errantes. Pela manhã, esses esqueletos vivos acorrem de todos os lados do campo e se precipitam sobre os estrumes para deles extrair os grãos de cevada não digeridos pelos cavalos, e dos quais se alimentam no mesmo instante. Outros roem os ossos para deles sugar a gelatina que neles ainda pode se encontrar, ou comem grama rarefeita que cresce em torno do oásis. Do meio dessa miséria surge uma libertinagem horrível que ganha as classes baixas da população da colônia, e espalha, nos corpos materiais, essas pragas corrosivas que deveriam ser a lepra da antiguidade. Meus olhos se fecham para não ver tanta vergonha, e a minha alma sobe para o Pai celeste para lhe pedir preservar os bons do contato impuro, e dar aos homens fracos a força de não se deixarem arrastar nesse abismo malsão. A humanidade ainda está muito longe do progresso moral que certos filósofos creem já realizado. Não vejo ao meu redor senão os epicuristas que não querem ouvir falar do Espírito; eles não querem sair da animalidade; seu orgulho se atribui uma nobre origem, e, no entanto, seus atos dizem bastante o que foram outrora”.

A ponte entre Argélia em 1868 e Gaza em 2025 está menos nos detalhes históricos e mais no que não mudou: corpos reduzidos ao limite, disputa por restos, sensação de vergonha moral e a constatação de atraso ético. Antes se dizia “A humanidade ainda está muito longe do progresso moral”, e agora se fala em “falha da própria humanidade”. A linguagem mudou um pouco; a denúncia é a mesma. Hoje, porém, a distância é maior porque já temos meios logísticos, informação em tempo real e tecnologia para evitar que a fome atinja esse patamar, e mesmo assim ela avança. Isso aumenta o peso da expressão “desastre causado pelo homem”.

Esse tipo de fome extrema em contexto de conflito mostra três camadas combinadas: interesses que colocam estratégias ou disputas acima da sobrevivência básica; destruição deliberada ou tolerada de meios de vida; e uma anestesia coletiva que vai tornando aceitável aquilo que deveria ser intolerável. Não é falta de diagnóstico; é falta de decisão consistente para inverter prioridades. Quando alguém pergunta “Como é possível?”, a resposta honesta é: porque ainda se permite. E justamente por ser permitido, volta como acusação moral.

“Se importar” pode parecer pouco, mas é onde a normalização começa a rachar. Importar-se aqui é recusar que números virem ruído e que a dor seja empurrada para longe. É a passagem do impacto emocional para um compromisso ativo: choramos porque reconhecemos a injustiça; importa também quem se inclina para enxugar essas lágrimas – acolhendo, socorrendo e sustentando, no alcance de cada um, a pressão ética por respostas reais.

A comparação histórica deixa uma escolha clara: ou esse tipo de registro deixa de ser uma peça de arquivo que repetimos com novas datas, ou seguiremos atualizando a mesma frase sobre “falha da humanidade” em futuros cenários. Chamar a fome de acusação moral não é dramatizar: é devolver responsabilidade. E responsabilidade não se terceiriza para “a humanidade” como abstração; ela se distribui em decisões políticas, econômicas, comunicacionais e na capacidade de não virar o rosto. A fome em Gaza e o sofrimento no mundo devem, sim, nos importar!

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