O preço que pagamos por amar alguém

Após a morte, a vida de quem permaneceu nunca mais é a mesma. O vazio deixado pela ausência, as memórias que surgem de repente e as datas que reacendem a saudade são experiências universais. O luto, como define a professora e pesquisadora Mary-Frances O’Connor, “é o preço que pagamos por amar alguém”. Em seus estudos na Universidade do Arizona, ela explica que esse sentimento de “perder um pedaço de nós” é real: os vínculos afetivos são literalmente codificados em nossos neurônios.

Mas como a sociedade moderna lida com a dor da perda?

Além das abordagens tradicionais da medicina, novas ferramentas estão surgindo. Plataformas digitais e inteligências artificiais, como o My AI do Snapchat, estão sendo usadas para “recriar” a imagem de entes queridos que já partiram. Essa prática, que desperta uma curiosidade mórbida, também traz dilemas éticos: até que ponto reviver digitalmente alguém pode ajudar — ou atrapalhar — o processo natural do luto?

Não por acaso, o termo “luto” é pesquisado cerca de 368 mil vezes por mês no Brasil, segundo dados da SemRush. São milhões de pessoas buscando consolo, compreensão e novas formas de lidar com a dor em um mundo cada vez mais conectado.

📌 As fases do luto

Psicólogos identificam cinco fases que podem se manifestar em quem perdeu alguém:

  1. Negação: mecanismo de defesa diante da dor.
  2. Raiva: questionamentos e inconformismo.
  3. Negociação: tentativas de imaginar “e se” ou “o que poderia ter sido”.
  4. Depressão: tristeza profunda e sensação de vazio.
  5. Aceitação: o passo que permite seguir adiante, sem esquecer, mas aprendendo a viver com a ausência.

Desencarne prematuro: a dor dos pais

A atriz Ana Rosa viveu essa realidade de forma intensa. Em 1995, perdeu a filha Ana Luísa, de apenas 18 anos, vítima de um atropelamento. Apesar da dor, encontrou forças nos outros filhos e no trabalho, lembrando que, mesmo em meio ao luto, a vida pede continuidade.

“No dia seguinte eu estava no estúdio para gravar Histórias de Amor… Só depois do enterro, o autor Manoel Carlos me ligou oferecendo uns dias de descanso. Foram dez dias para tentar respirar novamente”, relatou comovida.

O “Evangelho Segundo o Espiritismo” ensina que a morte prematura pode, muitas vezes, ser uma bênção — uma forma de poupar espíritos jovens das provas e dificuldades da vida terrena. Embora a saudade seja inevitável, a certeza de que continuam vivos e vamos nos reencontrar em outro plano, pode trazer alívio e sentido à saudade.

O olhar espírita sobre o luto

No Espiritismo, a morte é compreendida como uma passagem para a verdadeira vida do Espírito. O luto é marcado pela dor da separação física, mas iluminado pela certeza de que o amor nunca se perde e que o reencontro é inevitável.

A imortalidade da alma e a reencarnação oferecem uma nova perspectiva: a de que manter-se em sofrimento excessivo pode dificultar não apenas a caminhada de quem ficou, mas também a de quem partiu. A esperança e a prática do bem são formas de transformar a saudade em energia de amor.

Como nos lembra Chico Xavier: “Ante os mortos queridos, faze silêncio e ora. Ninguém pode apagar a chama da saudade. Entretanto, se choras, chora fazendo o bem. A morte para a vida é apenas mudança… Todos estamos vivos na presença de Deus.”

O luto é a expressão mais profunda do amor. Pela ciência, pela espiritualidade ou pela fé, a mensagem é clara: a dor da separação pode ser suavizada pela esperança e pelo compromisso com a vida — a que segue aqui e a que continua além.